terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A dor

As nossas angústias têm fases... A primeira fase é chorar, soluçar, desabafar tudo o que temos cá dentro preso e prontinho para sair. A segunda fase é pensar nas estratégias que temos para lidar com a dor. É difícil lidar com a dor e é ainda mais difícil encontrar alternativas para ultrapassar a dor quando dói tanto. Ter de pensar já é um cansaço mesmo quando não temos dor alguma... Quando a temos entranhada em nós torna-se um verdadeiro fardo. Não queremos pensar em absolutamente nada, muito menos em coisas que nos tirem a dor. Nesses momentos atingimos o nosso auge de masoquismo, ainda que seja inconsciente. Só queremos chorar, fechar os olhos na esperança de desaparecer, apanhar um comboio sem sabermos qual o destino, desligar o telemóvel, a internet e todos os meios que nos permitam contactar com os outros, apagar as luzes, passar o dia na cama e... uma imensidão de outras coisas que sentimos quando a dor está em nós. Apetece-nos tudo menos obrigarem-nos a pensar em formas de sair da dor. Isso não! Viver a dor torna-se imperioso e nem nos damos conta de que estamos a protelar a dor. No fundo só queremos sentir-nos melhor, não queremos que haja dor. Mas a única forma de nos sentirmos melhor nestas alturas é vivendo a dor... até ao limite. Sentimos bem, na dor. Ela passa a ser a nossa melhor amiga e se nos tiram a dor ficamos perdidos. Uma espécie de borracha que mesmo do tamanho de uma ervilha continua a apagar e demora a esgotar. Há dores assim, que demoram a passar, por mais que lhe demos uso. E nós temos tendência a usar a dor, até ao limite. Isto, partindo do pressuposto que a dor tem limite. Viver a dor é tão ou mais importante do que viver os sorrisos e as coisas boas que a vida nos dá. A dor faz parte da vida... não negligenciar a dor é o primeiro passo para sair da própria dor. Só com angústias damos valor à alegria. Só passando pela fase da dor, conseguimos passar para a segunda fase... a das alternativas para lidar com a dor. Se não houvesse dor não seriamos obrigados a pensar nelas. Isto é aprender a viver, ou... por outras palavras: aprendermos a ser pessoas melhores.

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